Sobre

A Conjuração Trash é um grupo independente de Cinema Alternativo sem fins lucrativos e com vídeos de baixo orçamento. Esta foi formada em Dezembro de 1996. Na época de sua formação tinha o nome de Extreme Produções. Integravam a Equipe principal cinco membros: Cristiano Popov Zambiasi, Elson B. Tonioli, Fabiano Boni, Saulo Popov Zambiasi e Wladenilson Antônio Corrêa. Tonioli e Wladenilson se desligaram da Extreme Produções no final de 1998, data em que passou a integrar a Equipe principal um novo membro, Fernando Strzelecki.

Em 2000, com o desligamento de alguns membros, a Extreme Produções passou a se chamar Conspiração Trash. Devido à semelhança com o nome de outra produtora, achou-se por bem em alterar o nome, o qual se tornou definitivamente “Conjuração Trash”, devidamente registrado junto ao INPI.

A equipe atual  é composta de oito membros: Cristiano Popov Zambiasi, Fernando Strzelecki, Lara Popov Zambiasi Bazzi Oberderfer, Marcos Santiago Fritsch, Patricia Leandra Barrufi Pinheiro, Hilario Junior dos Santos, Saulo Bazzi Oberderfer e Saulo Popov Zambiasi.

Uma das principais metas da Conjuração Trash é o contínuo aperfeiçoamento de suas produções e técnicas, tais como maquiagem, filmagem, roteiro, efeitos especiais, edição, entre outros.

Como Tudo Começou

Para tudo há um começo, no caso da Conjuração Trash, primeiro veio um vídeo.

Um certo dia, no final de 1996, o Fabiano Boni chegou na minha casa com a proposta de fazer um vídeo trash. Como o Cristiano, meu irmão, tinha uma filmadora VHS, poderíamos utilizá-la para fazer a captura das cenas. Em uma rápida conversa, nós três combinamos como seria a história e chamamos alguns amigos para filmar. As filmagens foram feitas numa tarde de sábado e a trilha sonora foi colocada nas cenas por meio de um aparelho de som que ficava atrás da pessoa que filmava. Como cenário foi utilizada a casa do Boni e no Complexo Esportivo Verdão onde fica localizada a sede do grupo de escoteiros Ximbangue de Chapecó. Todo o processo foi muito precário, o roteiro era apenas um esqueleto da ideia e as falas foram todas improvisadas.

Ao final das filmagens, na mesma tarde, nos reunimos eu, Cristiano, Boni, Elson B. Toniolli e Wladenilson A. Corrêa em um antigo bar no bairro Presidente Médici para tomar uma cerveja e descansar. Depois de umas cervejas e muitas risadas ao lembrar do processo todo, decidimos continuar com novos projetos. Nesse exato momento foi montada o grupo que, na época, era chamado de “Extreme Produções Cine Trash”.

Durante a semana seguinte, eu e o Boni fizemos uma montagem/edição das cenas de forma bastante rústica utilizando dois vídeo cassetes. Mesmo com os recursos limitados e as dificuldades da época, o nosso primeiro projeto, intitulado “Eles Estão Chegando” ficou bastante satisfatório.

Quando o grupo foi criado, a proposta era realmente trabalhar com o Trash. Não passava em nossa cabeça que o trabalho poderia chegar a um nível maior.

Na época, tínhamos no grupo pessoas com vários gostos diferentes. O Tonioli (originário da Canibal Filmes de Palmitos) e o Boni (amigo do Peter Baierstorf da Canibal Filmes de Palmitos) tinham uma forte tendência ao trash; o Wlade, como praticamente entrou de gaiato, não tinha qualquer tendência ; e por fim, eu e meu irmão tinhamos uma tendência maior para comédia, aventura e o gênero fantástico. Essa mistura dava um tempero bastante eclético e interessante para as nossas produções.

Durante toda a história do grupo, houve uma grande evolução quanto à utilização de recursos para a criação dos nossos vídeos. No início era apenas a filmadora JVC VHS do Cristiano e dois vídeo cassetes (um do Cristiano e outro do Boni). Material que foi utilizado para a finalização do Eles Estão Chegando.

No ano seguinte, 1997, a equipe começou a ter muitos membros devido aos convites feitos pelo Boni à diversos amigos dele. Não que isso não tivesse sido bom, pois acabamos fazendo muitos bons amigos na época, mas acabou levando ao fato de que a equipe chegou a ter 15 membros e, a maioria deles, muito dispersos, que iam e vinham sem realmente estarem dispostos a abraçar um projeto sério. Nesse meio tempo, conhecemos os irmãos Rodrigo e Cristiano Lima, que participaram do Carpindo nos Corpos e do Shuim: O Grande Dragão Rosa.

Para o segundo projeto, Carpindo nos Corpos, que ocorreu entre janeiro e fevereiro de 1997 e para o terceiro projeto, Shuim: O Grande Dragão Rosa que foi feito durante o mesmo ano, optou-se por editar e montar os vídeos de forma terceirizada. A edição era feita de madrugada, horário que tínhamos disponível na empresa de edição. Ela situava-se no prédio ao lado da antiga Focco Lanches. Enquanto o Fernando Carloto editava o vídeo ficávamos ali juntos para dar orientação de como gostaríamos que o resultado final ficasse. Ao final de cada madrugada de edição, íamos a uma barraca de cachorro-quente que ficava no local onde hoje fica a Havan. Foram várias madrugadas para se chegar ao resultado final. Para pagar o trabalho de edição, fazíamos uma vaquinha entre os membros da equipe.

Depois dessa fase, em meados de 1998, muitos membros da equipe já tinham se dispersado naturalmente, ou por motivos pessoais ou por falta de interesse. O Tonioli começou a ficar sem tempo na época e também achou por bem se desligar. Foi nessa época que decidimos convidar o Fernando Strzelecki para entrar para o grupo. Também tivemos a aquisição de novos recursos para as filmagens, a máquina de gelo seco e alguns spots de iluminação feitos em casa.

Em 1999, o Wladenilson se desligou da equipe por motivos de divergências criativas. Ele queria fazer um filme sobre “A História de Jó”, mas não concordamos porque não tínhamos ideia de onde conseguir um deserto e três mil camelos para as filmagens. Devido ao seu descontentamento, ele achou por bem se desligar do grupo. Vejam que não tínhamos sequer possibilidade de trabalhar com efeitos especiais na época.

Pouco depois, veio uma transição de grande importância para nosso grupo de cinema independente. Eu e meu irmão decidimos bancar a compra de uma placa de edição da Pinnacles (MiroVideo DC 30 Plus) junto com um HD de 10 Gigabytes. Gastamos na época uns três mil reais. Não sei quanto isso daria hoje, mas na época foi muita grana. Instalamos a placa e o HD no meu Pentium 100 MMX com 64 Mega de RAM e aos poucos começamos a fazer algumas brincadeiras para aprender a trabalhar com o recurso. O primeiro vídeo editado na placa foi “A Fuga”, no início de 2000. Na metade de 2000 fizemos as filmagens do projeto “O Segredo do Mosteiro”.

No mesmo ano, resolvemos mudar o nome do coletivo artístico para Conspiração Trash. Isso porque encontramos na internet uma produtora de vídeos pornô chamada “Extreme Videos”. Nessa época a equipe já tinha uma ideia mais madura sobre o que cada um queria fazer. Queríamos aprender mais e criar vídeos cada vez melhores. O nome surgiu da ideia de conspirar contra o próprio Trash das nossas raízes, mas ainda assim continuar Trash. Sei, é meio confuso, mas depois de umas cervejas, a premissa começa a fazer sentido. Vejam que já existia a Conspiração Filmes, mas por mais que gostássemos muito de cinema desde cedo, não conhecíamos os nomes das produtoras. Conhecíamos histórias, atores, etc., mas não íamos para a parte muito técnica.

No início de 2001, a equipe teve uma divisão. Para um lado seguiu o Fabiano Boni com as suas produções independentes, e ainda Trash, baseadas no personagem por ele criado chamado Boni Coveiro. Para o outro lado, eu e o Cristiano continuamos com nossos vídeos. O Boni já tinha a própria filmadora e ficou com a máquina de gelo seco. Eu e o Cristiano ficamos com o material de iluminação e o material de edição.

Por um tempo, basicamente eu e o Cristiano tocávamos os projetos. Como o Fernando estava com muito trabalho, ajudava apenas na criação das trilhas sonoras (sempre incríveis) e participava de algumas cenas nos filmes (época das filmagens e edição do Hartan IV).

Por volta de 2002, a minha irmã (Lara Zambiasi) e o Marcos Santiago Fritsch foram convidados para fazerem parte da equipe. Precisávamos de mais gente para o grupo e, devido à grande ajuda que os dois estavam nos fornecendo, achamos que era natural o convite.

Ainda nessa época, recebemos um telefonema do pessoal da Conspiração Filmes. Eles foram muito gentis e avisaram que os nomes parecidos podiam acabar confundindo a imprensa, já que estávamos aparecendo muito na mídia na época. Como já comentei anteriormente, não sabíamos realmente da existência da Conspiração Filmes. Também nem sabíamos que iríamos aparecer tanto na mídia. Foi então que, tentando encontrar um outro nome para o grupo, o Santiago sugeriu o nome de Conjuração, que no fim não mudava o significado, mas sim o significante. O novo nome fez mais sentido para nós e a identificação veio rápido. Nos definimos então até hoje como Conjurados.

Por volta de 2004, Novos membros foram chamados para compor a equipe, o Saulo Bazzi e a Patricia; e em 2006 o Hilário foi convidado, devido a amizade que temos e seu grande conhecimento e amor pelo cinema. O grupo passou então para 8 membros: Cristiano, Saulo e Lara Popov Zambiasi, Patricia Leandra Barrufi Pinheiro, Saulo Bazzi Oberderfer, Fernando Strzelecki, Marcos Santiago Fritsch e Hilário Júnior dos Santos. Essa mesma formação do grupo se mantém até hoje.

Formação Atual

A Equipe começou em Chapecó, mas devido a atual localização distribuída dos membros pelo Brasil, o grupo foi setorizado por núcleos, sendo que o núcleo de Chapecó é composto por Cristiano, Lara, Saulo Bazzi, Hilário e Fernando; o núcleo de Brasília que é onde está o Santiago; e o núcleo de Florianópolis composto por mim e pela Patricia. Essa setorização não foi uma divisão do grupo, mas uma forma de tornar mais fácil produzir em cada região diferente (filmagens e edição) sem precisar depender muito de material de outros núcleos.

A equipe atual, ainda mantém seus gostos ecléticos e, conforme fomos seguindo nossas vidas, nossas próprias profissões e aperfeiçoamentos. Inicialmente, ninguém era do cinema, eu e o Cristiano tínhamos uma grande influência das histórias do meu pai, que fez um curso de cinema em Minas Gerais quando jovem. Hoje temos o Hilário que é pós-graduado em cinema, foi coordenador do curso de publicidade e propaganda na UNOChapecó e é docente nas áreas de comunicação audiovisual. A Patricia é doutora em teatro, o Cristiano e o Santiago são advogados, a Lara é professora de TIC no IFSC e mestre em educação, o Saulo Bazzi é técnico de TI no IFSC, eu sou doutor em Engenharia de Automação e Sistemas e o Streze é Designer Gráfico. Somos uma bela equipe.

Processo de Aprendizagem

O processo de aprendizagem foi inicialmente na tentativa e erro. Aprendemos fazendo na prática, errando, arrumando, observando. Depois, com a TV a cabo, acabei vendo muita coisa em programas do tipo “A Magia do Cinema”, que mostrava como é feito por trás das câmeras. Hoje, temos o Hilário que acabou seguindo isso como profissão, a Pati com toda a teoria e prática de Teatro, e eu com minha experiência, leitura, conversas, etc. Foi todo um processo de dedicação, lendo bastante coisa, analisar trabalhos já feitos, tanto amadores, universitários, independentes, como grandes produções Hollywoodianas.

Meu aprendizado, particularmente, no processo de captura dos vídeos, foi na prática de pegar na câmera e filmar. Depois que vim para Florianópolis e eu quis começar a fazer algo aqui para não ficar distante e tive que aprender a filmar, coisa que antes era apenas o Cristiano que fazia. Na parte de edição, foi através de livros que comprei, em tutoriais nas páginas de Internet e muita prática. Edição de som, só na prática. Direção também, só prática. Mas na direção, o que me ajudou é que fui chefe de escoteiros por anos e atualmente sou professor de Faculdade. Organizar uma turma fazendo trabalhos de aula e um filme não é muito diferente. A parte de roteiro, aprendi lendo e fazendo. No final, tudo segue um método muito utilizado nos escoteiros: “Aprender fazendo”.

O desejo de aperfeiçoar nosso trabalho ocorreu naturalmente. O ponto chave foi o desejo de querer fazer melhor no próximo filme. Quando começamos a fazer os vídeos, foi tudo muito simples, mas na hora de assistir, começamos a parar para prestar mais atenção no resultado final. Começamos a pensar: “a gente podia ter feito melhor”. Aí vinha a pergunta na cabeça: “como fazer melhor?”… e isso chamava outra resposta com outra pergunta e acabou gerando muitos questionamentos. Eu e o Cristiano prezamos muito pela qualidade, melhoria e evolução dos trabalhos desde o início. Isso acabou ficando impregnado na filosofia do grupo, que acabou por trazer novos membros com ideias em comum e também diversas (o que é ótimo).

A Conjuração Hoje

A Conjuração Trash, por mais que haja o “produções” no nome, não é uma produtora realmente, é um grupo de amigos apaixonados pelo cinema e que amam ainda mais o ato de fazer cinema. Por um bom tempo tentamos nos encontrar em termos, não que isso fosse um ponto crucial, mas na hora de definir para alguém o que fazíamos, alguns termos nos faltavam. Por algum tempo nos denominamos como cinema trash, filme B, cinema amador, cinema alternativo, etc.. Hoje, podemos definir um pouco mais tecnicamente o trabalho da Conjuração como Cinema de Bordas, termo criado pela Doutora Bernadette Lyra, escritora e professora universitária nas áreas de literatura e cinema, que vem fazendo um trabalho incrível nesse contexto.

Criação

A criação dos projetos hoje começa pelos roteiros, que pode ser criado por qualquer membro da equipe quando uma ideia surge. Temos uma das regras básicas que nos classifica como cinema autoral, ou seja, as ideias implementadas são nossas, da equipe e não pegamos histórias ou roteiros de outros. A atuação, inicialmente, era apenas dos membros da equipe com ajuda de amigos. Atualmente temos apoio de alguns atores de teatro para a parte de interpretação, mas ainda são nossos amigos, ninguém desconhecido. O que mantém ainda a linha inicial da produção dos trabalhos pelos membros da equipe em união com amigos. As tarefas de produção, direção, criação, filmagens ainda são exclusivas apenas dos membros da Conjuração.

A inspiração é bastante eclética e pessoal, pois temos oito membros com gostos muito diversificados. Eu, particularmente, tenho bastante inspiração em filmes de ficção científica, um pouco comédia estilo Monty Python, cultura gótica, cyberpunk, retrofuturismo, cinema noir, gênero fantástico, etc. Mesmo citar minhas inspirações eu acho difícil. De repente posso ter uma ideia a partir de uma situação e querer um projeto a partir disso.

Quanto aos recursos financeiros gastos nos projetos, até hoje, não paramos realmente para contabilizar nossas produções. Em geral íamos fazendo vaquinha para cada tipo de gasto e não anotávamos nada. Ainda não fazemos isso. Nossos recursos saem de nossos próprios bolsos. Com a experiência de ministrar oficinas, acabamos tendo que fazer certas contabilizações, acredito que nas nossas próximas produções vamos pensar em fazer anotações sobre isso.

Dificuldades

A maior dificuldade hoje é o tempo. A parte financeira já foi mais complicada devido aos recursos limitados da época. Mas hoje aprendemos a fazer mais com poucos recursos, pois existem mais facilidades na parte tecnológica. Pode-se utilizar um smartphone para filmar e qualquer computador atual dá para se fazer uma edição razoável. Desde o início da Conjuração, tentávamos fazer as coisas com muita criatividade e tentando apenas recorrer à gastos financeiros em última instância. Mesmo assim, muitas coisas tínhamos que substituir por algo que não dava para comprar. Ainda mantemos, de certa forma, essa linha. Um outro grande problema é fazer longas, isso exige muito tempo de filmagens e edição. Ainda não temos condições financeiras para pagar atores (não participamos de editais, nem nada do gênero). Então contamos com a disposição e amizade dos atores, que podem estar disponíveis em um dia, mas nem sempre por um período longo. Por isso seguimos na ideia central de sempre produzir curtas.

Quando precisávamos recorrer à recursos financeiros, era sempre do nosso bolso. Houve uma exceção no vídeo da Odisseia de Hartan IV, que fomos atrás de patrocínio, mas só conseguimos auxílio do Remir Perizollo, dono do Posto Perizzolo e que também era pai de um dos atores. Os custos envolviam alimentação, combustível, fitinhas VHS para a filmadora, as vezes produtos para maquiagem, tecidos e materiais para fazermos o figurino (que nós mesmos costurávamos). Retorno financeiro nunca houve. Nem era nossa intenção. Há quem, do cenário Trash, vendia fitas e ainda hoje vendem DVDs para ganhar dinheiro para novos projetos. Mas nós não fazemos isso. Tudo o que fazemos é apenas pelo amor ao audiovisual. Não conseguimos ver isso como um negócio.

Divulgação

Antigamente, para divulgar nosso trabalho, tínhamos o processo de gravar uma fita de video cassete e mandar via correio sob pedido. Já tínhamos acesso à internet desde o início da Conjuração e já divulgávamos nosso trabalho em uma homepage. Também participávamos de festivais e trocávamos fitas com o pessoal do Trash do Brasil inteiro, incluindo a Pepa Filmes, o Rafinha Bastos, Pedro Daldegan (Pi) e vários outros nomes do cenário Trash brasileiro da década de 90.

Contudo, a nossa maior intenção com o público era poder mostrar nosso trabalho para a região, como uma forma de incentivar o cinema no bom e velho estilo do “faça você mesmo’. Apresentamos alguns dos nossos trabalho na universidade, atual UNOChapecó. O Shuim, por exemplo, teve um público de mais de mil pessoas em três sessões lotadas no auditório. Os demais vídeos passávamos em bares, escolas e outros locais. Teve também o projeto cinema nos bairros, que apresentamos nossos vídeos nas escolas de vários bairros de Chapecó. Há alguns anos também fizemos uma mostra dos vídeos no Centro de Artes da UDESC, e procuramos participar com certa regularidade de festivais locais.